segunda-feira, 14 de março de 2011

Sonhos!

As vezes sonho incoerências em desalinho com meu tempo pequeno.Sonhos, assim, despudoradamente humanos.Sonhos, assim, desavergonhadamente felizes.
Ainda que a cidade triste desautorize, ainda que as fábricas ergam seus muros cinzas onde guardam minha classe da luz do dia e roubam seus corpos das carícias da noite.
Sonhos subversivamente despertos que meu sonho está ali bem perto, tanto que sinto cheiros descabidos e minha boca antecipa o gosto dos delírios como fossem pães recém-nascidos.
Sonho desavisadamente alegre com uma casa de janelas amplas com jardins e flores e plantas e discos e filmes e livros e tanta sede e fome tanta que em qualquer fruto a ceia é santa.
Sonho que nos relógios quebrados e inúteis as aranhas amarelas fazem com calma suas casas e em dias longos e quentes ex-lagartas apaixonadas estreiam suas novas assas.
Sonho que o mar fica ali em frente onde as ondas e as horas inquietas martelam as costas cansadas do continente e na pele de praia do planeta, a areia tritura seus minúsculos universos náufragos num continuo mastigar de conchas e dentes.
Sonho então que caminhas… linda… pela praia e nosso cão te acompanha alegre e você é tão feliz… tão feliz… tão feliz que quase esquece de toda a pré-história da humanidade, da tragédia dos séculos e da miséria destes anos em que andamos, por tanto tempo, militando.
Militando e sonhando que lutamos. Lutando e militando porque sonhamos que o mundo pode ser, enfim, a casa onde moraremos sonhando, para sempre, que nos amamos. 
                                                                                                         Mauro Iasi

Nenhum comentário: